Resumos

A imprensa e o financiamento do Partido Republicano Nacionalista (1923-1935)

Manuel Baiôa (Centro Interdisciplinar de História, Culturas e Sociedades, Universidade de Évora) 

O Partido Republicano Nacionalista foi o segundo partido mais importante na fase final da I República portuguesa. Representava a linha política republicana conservadora alternativa ao Partido Republicano Português, que seguia a linha radical e histórica do republicanismo e que permanecia como partido dominante do sistema político. Neste estudo pretendemos caracterizar a imprensa e o financiamento do Partido Republicano Nacionalista (1923-1935) no contexto dos partidos políticos portugueses dos anos 20 e 30 do século XX. 

Palavras-chave: Partido Republicano Nacionalista; Primeira República; imprensa

A Nova Europa de 1918/1919. Perceções d’ A Capital o diário republicano da noite

Paulo Cracel (Faculdade de Letras, Universidade de Lisboa)

Dos escombros da Grande Guerra emerge, um pouco por toda a Europa, um sentimento renovado de nacionalismo e autodeterminação. Embora não constitua uma inovação da época, mas antes um novo estágio de um processo em curso, este atingirá no período subsequente ao armistício a sua expressão máxima, materializando-se no redesenho de novas fronteiras, na ruína de Impérios, na fundação de novos Estados e na substituição de regimes. A relevância política desta nova realidade geoestratégica tornar-se-á por demais evidente a caminho do final da conflagração mundial, revestindo-se de importância social e jornalística, malgrado a realidade compósita em que se situavam os periódicos portugueses. Envolvidos num cenário político interno de elevada instabilidade, lutavam pela sua sobrevivência, ameaçados pela censura, pela crise económica, pela “crise do papel” e por episódios de violência popular dirigida aos recursos físicos da imprensa. Neste período de singular comoção, singularizamos A Capital como um veículo privilegiado de transmissão da realidade internacional. Esta vocação internacionalista manifestar-se-á pelo acentuado interesse na cobertura da Guerra e dos seus efeitos, mas também pela ampla atenção à Nova Europa que emergiu entre 1918 e 1919.

Palavras-Chave: Primeira Guerra Mundial; A Capital; Noticiário Internacional

O Mundo e a disputa pela liderança do Partido Republicano Português (1919-1921)

Pedro Figueiredo Leal (Faculdade de Letras, Universidade de Lisboa)

O Mundo foi um dos jornais mais emblemáticos do republicanismo em Portugal. Após a morte de França Borges, seu fundador, O Mundo passaria a ser gerido por Carlos Trilho e ver-se-ia envolvido na luta fratricida pelo controlo do Partido Republicano Português (PRP), com o afastamento de Afonso Costa, em 1919. Apoiante da facção de Domingos Leite Pereira, entraria em choque, sobretudo contra António Maria da Silva, que também lutava pelo domínio dos Democráticos. Nesses anos, O Mundo, especialmente pela pena do seu redactor principal, José do Vale, pugnava pelo regresso original da pureza republicana, pela defesa intransigente do legado de Afonso Costa, levantando de novo o fantasma monárquico e clerical. As críticas contínuas contra o republicanismo moderado, personificado por António Granjo, fizeram deste jornal um dos maiores incitadores da revolução de 19 de Outubro de 1921, que desencadearia a chamada Noite Sangrenta. Nesta comunicação pretendemos acompanhar a actuação de O Mundo, especialmente entre 1919 e 1921, como órgão de informação militante, mas também como agente político no contexto da desagregação do PRP, e do próprio regime, após a I Guerra Mundial.

Palavras-Chave: O Mundo; Domingos Leite Pereira; Partido Republicano Português

Imprensa republicana do Porto. Entre a província e a capital

Conceição Meireles Pereira (CITCEM-FLUP)

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A imprensa republicana de Lamego

Isilda Monteiro (ESEPF/CITCEM-FLUP)

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Conflitos intrarrepublicanos no periodismo de Alenquer

Bernardo Nunes (Faculdade de Letras, Universidade de Lisboa)

Este tema, inserido na temática “Periodismo Republicano nas Províncias”, procura analisar de que forma os conflitos ideológicos e pessoais dentro do movimento republicano em Alenquer se fizeram refletir na sua imprensa e na sua ação política neste meio. Este trabalho concentra-se em dois pontos temporais específicos que, por consequência das suas especificidades, são centrais nesta análise, sendo eles o período eleitoral de 1892 a 1893 e o período entre 1820 e 1826. Se o primeiro período é marcado por conflitos essencialmente de índole pessoal entre os dois principais periódicos republicanos locais: o “Damião de Goes” e o “Alenquerense”. O segundo período, por outro lado, é marcado por conflitos ideológicos entre as diferentes correntes do pensamento republicano (e com a intervenção de um periódico abertamente monárquico), espelhando o fenómeno nacional de pulverização do movimento republicano português e o esgotamento do seu sistema de governo.

Palavras-Chave: Alenquer; Periodismo Local; Republicanismo nas Províncias

O Crime das Escadinhas da Mãe D’Água ou como A Vanguarda combateu a censura em 1900

Gisela Monteiro (Divisão Gestão Cemiterial, Câmara Municipal de Lisboa)

Neste trabalho pretende-se apresentar um caso que expôs decisões censórias do final do século XIX e levou a um movimento pela mudança das leis da censura em Portugal. Na noite de 8 de Dezembro de 1900 ocorreu um assassinato nas Escadinhas da Mãe D’Água, em Lisboa. Como habitualmente, no dia seguinte, os jornais descreviam os detalhes possíveis do assassinato do jovem Jorge O’Neill, morto a tiro por desconhecidos, mas, ao contrário do habitual, as descrições do crime e envolvidos, quase desaparecem da imprensa Lisboeta dos dias seguintes. O jornal republicano A Vanguarda toma a dianteira, denunciado a censura à notícia, decretada pelo juiz Francisco Maria da Veiga e procurando continuar a noticiar o acontecimento, agrilhoado pelas limitações impostas. Em contraponto, o Diário Ilustrado, publicação de pendor monárquico, recusa a ideia de censura, mas também limita a informação publicada. A verdade é apresentada pela imprensa espanhola, sendo necessário recorrer ao El Liberal, jornal liberal republicano, para descobrir o que aconteceu e porque motivo um crime desta natureza foi censurado.

Palavras-Chave: Crime; Censura; Imprensa

A construção memorial de Fátima pela Igreja Católica: uma análise através dos periódicos O Mensageiro e a Voz de Fátima (1917-1922)

José Maria Barbosa (Faculdade de Letras, Universidade de Lisboa)

Assim com outras instituições, a Igreja Católica necessita definir a sua identidade, construindo-a através da História Oficial. Esta ação de seleção daquilo que se quer relembrar do passado não deixa o culto à Virgem de Fátima intacto. Esta exposição tem como objeto analisar a ação católica no processo de construção da memória das aparições expressos nos meios de comunicação social escritos. Através dos estudos culturais da memória procura-se entender as suas diferentes dimensões (Erll, 2011). Neste estudo foram selecionadas fontes católicas oficiais ou oficiosas, produzidas no espaço, a Cova de Iria e no espaço religioso, a Diocese de Leiria. Os periódicos locais representam uma importante fonte para o entendimento da forma como esta comunidade é representada na memória da Igreja Católica, que intervém diretamente no culto. A investigação tem comprovado que existe a intervenção da hierarquia eclesiástica, como é o caso de D. José Alves e Manuel Nunes Formigão. Ambos demonstram o interesse da Igreja em construir um discurso e controlar as devoções no local. A preocupação com a ritualização, narração e formas de devoção enquadram-se num projeto político mais amplo.

Palavras-Chave: Memória; Ação Católica; Fátima 

As percepções do jornal O Debate sobre o fenómeno de Fátima (1917-1926)

Fábio Emanuel Oliveira (Centro de História, Faculdade de Letras, Universidade de Lisboa)

Em 1917 ocorreu em Portugal um fenómeno que suscitou controvérsia. O fenómeno de Fátima foi uma lufada de ar fresco para os que combatiam a República. Este acontecimento abrandou os objectivos da República de laicizar a sociedade portuguesa, entenda-se acentuou a crença. Posteriormente, Fátima passou a ser local de culto com peregrinações e procissões. O periódico distrital de Santarém, O Debate, considerava ilegítima a ocorrência de tal culto. Politicamente, defensor dos ideais republicanos, ao longo destes nove anos, o semanário criticou de forma combativa e acesa a realização deste culto. Considerava que a República estava a ser desrespeitada, acusando os padres e os monárquicos do concelho de Vila Nova de Ourém de utilizarem Fátima para combater a República. Esta proposta enquadra-se no tópico – periodismo republicano nas províncias. Portanto, qual a opinião do periódico sobre o fenómeno de Fátima? Que opiniões manifestadas pela sociedade oureense em relação ao fenómeno? Qual o grau de animosidade do semanário em relação a Fátima? Perante este fenómeno, o confronto ideológico era evidente nas páginas do jornal em apreço, a partir do momento em que se limitava a acusar Fátima de todos os males que estavam a acontecer à República.

Palavras-Chave: República; Fátima; O Debate 

A insurreição dos cruzadores (1906): percepções na imprensa republicana

Catarina Azevedo Silva (Faculdade de Letras, Universidade de Lisboa)

Propõe-se realizar uma leitura sobre as reações da imprensa periódica lisboeta e portuense em relação às insubordinações dos cruzadores «D. Carlos I» e «Vasco da Gama», ocorrências verificadas em abril de 1906. A investigação tem como objetivo principal compreender, comparar e perceber como foram interpretadas estas revoltas da Marinha Portuguesa, pelos periódicos destas duas cidades. Tendo sempre em consideração que nesta época a imprensa não era imparcial, e frequentemente apresentava tendências partidárias evidentes. Isto é, as opiniões divergiam consoante as orientações políticas dos redatores das revistas em estudo, e por vezes, da localização da própria redação. Por exemplo, um jornal monárquico condena estes acontecimentos, visto que, estamos perante uma contestação clara da Armada ao regime vigente, enquanto um periódico republicano demonstra um certo apoio às ocorrências e seus protagonistas. Relativamente às fontes utilizadas para efeitos de pesquisa, destaca-se o arquivo da Hemeroteca Municipal e a Biblioteca Nacional de Portugal. Os seguintes periódicos foram usados: Arquivo Gráfico da Vida Portuguesa, Brasil-Portugal: Revista quinzenal; Comércio do Porto; Diário Ilustrado; Illustração Portugueza; Jornal do Comércio; Jornal do Notícias; O Occidente: Revista illustrada de Portugal e do estrangeiro; Vanguarda: Diário republicano independente; Voz Pública.

Palavras-Chave: Imprensa; Insurreição; Marinha 

José de Macedo e a imprensa republicana

Pedro Álvaro Mateus (Faculdade de Letras, Universidade de Lisboa)

O presente trabalho de investigação inscreve-se no âmbito do colóquio Periodismo Republicano: perspectivas e representações. Sendo que esta introdução visa enaltecer desde já a importância basilar do estudo do periodismo republicano, na compreensão do pensamento e do percurso político das figuras da época. Para compreender o tema, obrigatório esboçar a figura José Macedo, e enunciar a ligação aos periódicos republicanos com o qual esteve envolvido. Bem como o contexto da época que viveu. Será usada como fonte primária o artigo «Desfazendo uma habilidade» datado de 24-1-1922, que saiu no n.º 2 do jornal O Outubrista do qual Macedo foi fundador e dirigente. José de Macedo (Vila Nova de Gaia, 13 de Janeiro de 1876 – Lisboa, 31 de Julho de 1948), esse colaborou em vários jornais republicanos e socialistas. Foi preso ao abrigo da lei 13 de Fevereiro de 1896. Tendo sido membro do Partido Socialista, fundou e dirigiu A Lucta, diário socialista, substituído pela Federação, A Defesa de Angola, O Outubrista e o Diário do Povo. Orgão do Partido Republicano Radical (1925). Foi também do Partido Republicano Português (Democrático) e figura destacada do Partido Republicano Radical.

Palavras-chave: José de Macedo; Republicanismo; Resistência 

Ladislau Batalha: o Avante e a defesa dos interesses locais/nacionais

Pedro Ramos (Faculdade de Letras, Universidade de Lisboa)

Em vésperas da implantação da República em Portugal, Ladislau Batalha fundou e animou militantemente o periódico Ávante! : defensor das classes trabalhadoras e dos interesses locaes. Tal iniciativa, longe de se esgotar na salvaguarda dos interesses do Barreiro, cujo perímetro urbano observava então mutações substantivas associadas ao desenvolvimento dos transportes e do sector industrial, constituía uma lógica de intervenção substantiva em prol da alteração social e económica do país. Essas premissas, cimeiras no ideário de Ladislau Batalha, transpareciam o périplo cosmopolita e a mundividência do Autor o qual, em relatos de viagens e memórias, dava a conhecer uma índole viajante. Mais, se a promoção dos propósitos barreirenses inscrevia Ladislau Batalha na senda dos postulados republicanos fiéis a José Félix Henrique Nogueira, a coesão da comunidade e o entendimento holístico da mesma prenuncia a conotação de Ladislau Batalha com os ideais do Socialismo os quais abraçava desde cedo. Na presente comunicação pretende-se a análise circunstanciada do periódico supramencionado em face das premissas de indagação primordiais a saber, quais as leituras de Ladislau Batalha sobre a evolução económica e social do Barreiro, nos anos de 1909 e 1910; quais as abordagens do fenómeno político no ideário do Autor e as mutações suscitadas nessas na sequência da revolução de 5 de Outubro de 1910 e da proclamação da República; não menos relevante, quais os legados das vivências e contactos com diferentes contextos – europeu, asiático, africano e americano.

Palavras-Chave: Republicanismo, Barreiro, Ladislau Batalha

El ilustre jefe en la ciudad. Las visitas de los lideres republicanos a Barcelona a través de la prensa republicana catalana durante la Restauración (1875-1906)

Àlex Pocino Perez (Universitat de Barcelona)

La visita de un líder político republicano a una determinada provincia española suponía uno de los eventos de mayor magnitud para los republicanos de las distintas fracciones durante la Restauración. Tal como se demuestra si analizamos la gran movilización social que, por ejemplo, generaron las visitas a Barcelona y otros puntos de Cataluña de Pi i Margall en 1881, 1888 o 1901, de Castelar en 1879 y 1888 o de Salmerón en 1887, 1891 o 1904. La prensa republicana, publicando frecuentemente para la ocasión números extraordinarios, dedicó un gran número de páginas a narrar con todo detalle el día a día de los líderes en su viaje: la grandilocuente recepción en la estación, el traslado hasta el alojamiento, qué centros visitaban, las serenatas ofrecidas, las veladas, fiestas y mítines con transcripciones extensas de los discursos pronunciados. Con estas bases, el objetivo de la comunicación es comparar el análisis realizado de estas visitas de líderes republicanos a Barcelona por dos tipos de prensa republicana catalana y su evolución entre 1875 y 1906. En primer lugar, la prensa republicana de partido, la cual vio en estas visitas un ritual fundamental de afirmación y propaganda de los ideales de un determinado partido y líder. En cambio, la prensa republicana no asociada a un partido concreto, siendo el mayor ejemplo el peculiar y longevo diário barcelonés El Diluvio, fue muy crítica con estos actos ya que consideraba que solo servían para reforzar el personalismo de los líderes republicanos generando una división entre las bases y los prohombres del partido agravando así la fragmentación política republicana. Una tendencia de denuncia del personalismo que se incrementó a finales de la década de 1880 y principios de la siguiente en paralelo a la aparición en todas las fracciones del republicanismo catalán de sectores críticos con los liderazgos de los partidos republicanos.

Palabras clave: Visitas; líderes republicanos; Barcelona

Entre o Progresso e a “teratologia social” – Positivismo e educação cívica na participação de Zófimo Consiglieri Pedroso (1851-1910) na imprensa periódica republicana

Frederico Benvinda (Centro de História, Faculdade de Letras, Universidade de Lisboa)

Zófimo Consiglieri Pedroso (1851-1910), historiador, professor e diretor do Curso Superior de Letras, participou na imprensa periódica republicana entre 1874 e 1910. Em O Positivismo dedicou-se à divulgação da sua visão dessa doutrina, aplicada ao estudo da história. Esse entendimento, influenciado pelos seus ideais republicanos, informou Propaganda Democrática, coleção de folhetos de educação cívica que dirigiu. Consiglieri Pedroso considerava que o curso da história se caracterizava pela marcha paulatina do progresso ideológico, que impelia as sociedades europeias coevas para a democratização. Contudo, mobilizava a realidade francesa entre 1789 e 1870 para demonstrar, através de uma explicação organicista, que o Progresso estava sujeito a refluxos. O Primeiro e Segundo Impérios franceses eram evidências de “teratologia social”, do ressurgimento anacrónico, patológico, de regimes ultrapassados. No caso português, identificava como teratológica a manutenção da monarquia constitucional, que causara o abandono do curso natural do Progresso, que entendia que prescrevera a democratização de Portugal no seguimento da revolução de 1822. No final do século, argumentava que o anacronismo do regime contrastava com o desenvolvimento do país e que era necessária a implantação do republicanismo. Todavia, havia que educar a população para que preferisse esta forma de governo, que a ciência comprovava ser a mais avançada.

Palavras-Chave: Ciência; Progresso; Republicanismo 

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Álvaro da Costa Matos

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O ambiente tradicional da vida académica estudantil em Coimbra: o combate político, a renovação cultural e a greve académica de 1907

Nuno Simão Ferreira (Centro de História, Faculdade de Letras, Universidade de Lisboa)

Fenómenos cruzados como a crescente massificação na frequência universitária, o influxo de novas ideias filosóficas como o positivismo, o cientismo, o realismo, o socialismo e o republicanismo, contestatários do status quo vigente, determinaram que a universidade se tornasse num amplo e ativo espaço de aprendizagem revolucionária, lançando-a numa enorme instabilidade, tanto mais explosiva quanto se misturavam condicionantes político-culturais com interesses especificamente pedagógicos e um ativíssimo jornalismo estudantil, que a 18 de março de 1901 via a criação do Centro de Democracia Cristã e, em janeiro de 1906, do Centro Republicano Académico. A greve académica de 1907, que contaria com a participação dos futuros integralistas, foi como o culminar de uma série de incidentes e de um clima de tensão latente que, havia muito, opunha as estratégias conservadoras do espírito universitário e os anseios renovadores do espírito académico estudantil. A greve académica de 1907 foi um dos acontecimentos sociais e políticos mais marcantes do Governo de João Franco e do imaginário estudantil dos últimos tempos da Monarquia. Por isso, a greve académica de uma inicial rebelião endógena ou uma forma de luta no plano institucional-corporativo universitário, logo extravasou para uma contestação ideológico-política exógena ou para o plano político-cultural nacional.

Palavras-Chave: Ideologias; Academia; Coimbra 

O periodismo republicano e as transformações no campo da crítica musical em Lisboa durante a I República

Luís M. Santos (Centro de Estudos de Sociologia e Estética Musical, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa)

Nos anos da Primeira República, a imprensa acompanhou de perto e teve uma participação activa no fenómeno que desde o dealbar do novo regime se desenrolava em Lisboa: um florescimento do interesse pelos concertos sinfónicos públicos, verdadeiro ritual laico, democrático e descristianizado que então se impunha à tradição operática que imperara na Monarquia deposta. Esta actividade assumia um lugar destacado na vida cultural, tendo participado nos múltiplos processos políticos, económicos, sociais e culturais que marcaram a época. As instituições e agentes da crítica desempenharam um papel essencial na apropriação política do fenómeno, em sentidos diversos, para além do propósito comum de construção discursiva da transcendência do objecto. Incidindo sobre o âmbito da imprensa republicana lisboeta durante a vigência da Primeira República, esta comunicação examina alguns aspectos concernentes ao modo de funcionamento do campo da crítica musical, que nesta fase já detinha a sua autonomia no seio do macrocosmos mais alargado do jornalismo. Pretende-se identificar a sua lógica interna, os mecanismos de definição, estabelecimento e manutenção da sua própria autoridade, bem como as consequências na ratificação de uma série de valores e do interesse do fenómeno sinfónico para a sociedade, sem esquecer o impacto permanente das importantes lutas políticas em curso.

Palavras-chave: periodismo republicano; crítica musical; música; política

Fome de Riso – a Sátira como reflexo da carestia de vida em Portugal (1916-1928)

Mário Sequeira (Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa)

Entre a I Guerra Mundial e os finais dos anos 20, Portugal foi confrontado com uma realidade bastante complicada em termos de géneros alimentares, chegando a registar um cenário de fome durante alguns anos da guerra. O presente trabalho propõe-se a apresentar e analisar como a imprensa satírica portuguesa retrata toda esta situação, desde a carestia de vida e alta de preços até aos açambarcadores e novos-ricos. Pretende entender quem a imprensa satírica mais visa nas suas caricaturas, bem como os alimentos mais mencionados pelos caricaturistas. Esta vai refletir o descontentamento generalizado da população face a diversos assuntos. Sendo preciso o estabelecimento de balizas cronológicas, estas ficaram entre a entrada de Portugal na I Guerra Mundial a 9 de março de 1916 e o início da Ditadura Financeira de Oliveira Salazar com a sua nomeação como ministro das Finanças em 27 abril de 1928. Procurou-se recolher material variado que oferecesse uma visão diversificada e interessante sobre esta temática. Pertinente referir que não foi consultada apenas imprensa que se especialize na sátira, mas também imprensa cujo principal propósito não é o humor. É o caso dos jornais Diário de Lisboa e o suplemento ilustrado d’A Batalha.

Palavras-chave: carestia de vida; desigualdades económicas; imprensa satírica 

A Revista Militar, o Pensamento Estratégico e os debates em torno das políticas militares da I República

António Paulo Duarte (Centro de Investigação, Desenvolvimento e Inovação, Academia Militar)

A Revista Militar foi fundada em 1849, sendo hoje, a mais antiga publicação periódica do Mundo. Hoje relativamente relegada para um plano secundário, foi, todavia, por décadas espelho e expressão da cultura militar, não só terrestre, mas marítimo-naval de Portugal, por ela passando interessantes análises sobre Portugal e sobre a política militar, num tempo em que o a Força Armada representava em simultâneo, um relevante papel político e outro tanto intelectual. A comunicação que aqui propomos pretende interrogar, analisar e interpretar a leitura e a narrativa ou as narrativas que sobre o Portugal e a sua defesa nacional eram produzidas na Revista Militar, durante a I República, inclusive o modo com a experiência da Grande Guerra foi observada, exposta e interrogada. A comunicação observará os textos, os autores (e sua filiação ideológico-partidária), os temas e os tópicos, que espelham aquilo a que hoje se denomina de “Estratégia de Segurança Nacional”, ou seja, para lá dos aspetos mais estritamente militares, aqueles relacionados com a geopolítica e a geoeconomia de Portugal. 

A imprensa documenta a Primeira Travessia Aérea do Atlântico Sul em 1922: diálogos luso-brasileiros e redes transnacionais do republicanismo

Andréa Casa Nova Maia (Universidade Federal do Rio de Janeiro) 

Diogo Oliveira (Universidade Federal do Rio de Janeiro)

O Diário de Lisboa, ao lado do jornal brasileiro Correio da Manhã, estão nas fileiras dos periódicos republicanos mais influentes de sua conjuntura. Em 1922, os dois jornais destacavam em suas folhas matérias sobre a visita de Antônio José de Almeida às terras brasileiras para as comemorações do Centenário da Independência do Brasil e reportagens sobre a Primeira Travessia Aérea do Atlântico Sul, protagonizada por Sacadura Cabral e Gago Coutinho. O envio de mensagens, as trocas de telegramas entre o presidente português e o brasileiro, Epitácio Pessoa, e as demonstrações de cordialidade recíproca compartilhadas nestes jornais são capazes de expor o republicanismo português. Consideramos que a divulgação destes acontecimentos pelos periódicos é mais uma demonstração de nossa hipótese central, a de que se construía pela imprensa, fundamentalmente a partir das narrativas sobre a Travessia, uma opinião pública favorável aos ideais republicanos e a valorização do presidencialismo como uma faceta decisiva para a consolidação da República. A partir dos materiais jornalísticos produzidos pelos periódicos citados, pretende-se explicitar como o ideário republicano de Portugal é revelado em narrativas transnacionais. Para isso, estamos a examinar mensagens, imagens e telegramas, além de documentos presidenciais encontrados no Arquivo Histórico e Institucional do Museu da República (Brasil).

Palavras-chave: Republicanismo; imprensa; Travessia Aérea do Atlântico Sul 

Arte, Política e Modernidade: representações sociais nas revistas Manhua no período Republicano Chinês (1925-1948)

David Ramalho Alves (Iscte - Instituto Universitário de Lisboa)

Na primeira metade do século XX, a China atravessou uma era de transformação profunda, marcada por esforços de modernização e de estabelecimento de uma estrutura republicana. Neste período, os valores tradicionais chineses debateram-se com influências externas que moldaram as paisagens ideológicas e as perceções da identidade nacional. Esta comunicação tem como objetivo apresentar uma análise das representações sociais nas revistas de entretenimento e sátira social no Período Republicano Chinês (1925-1948), explorando como essas publicações refletiram e influenciaram o espectro sociopolítico e cultural da época. Os dados apresentados são produto de um estudo que seguiu uma abordagem qualitativa em que foram analisadas imagens originais da revista Shidai Manhua, categorizando-se as principais dimensões de análise. Os resultados demonstram que este tipo de imprensa visual tiveram um impacto significativo na disseminação de ideias republicanas internacionais e na construção de uma identidade cultural coletiva. Entre os principais tópicos identificados nas imagens, destacam-se as questões relacionadas com a modernidade, ideologia, influências externas, lazer, corrupção, entre outros. Assim, neste estudo é evidenciado como este tipo de publicações contribuiu para a promoção de uma esfera pública crítica e informada durante a Era Republicana.

Palavras-chave: China Republicana; imprensa; modernidade

Augusto de Vasconcelos na imprensa democrática e unionista: acção e leituras vasconcelianas sobre o advento da República em Portugal

Soraia Milene Carvalho (Centro de História, Faculdade de Letras, Universidade de Lisboa)

Augusto de Vasconcelos (1867-1951), médico-cirurgião dos Hospitais de Lisboa, figura grada do republicanismo português, Lente da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, antigo Presidente de Ministério (1911-1912), diplomata em Madrid e em Londres ao tempo da Grande Guerra, e um dos principais rostos do país na Sociedade das Nações (1923-1937), foi agente activo na propaganda republicana, assim como na identificação de problemas e lacunas relativas à construção do regime em Portugal, com especial acuidade na política externa. Assim, o presente trabalho presente apresentar as leituras de Augusto de Vasconcelos dadas à estampa sobre o advento da República no país e as fórmulas encontradas pelo antigo ministro, na imprensa periódica democrática e unionista, para trespassar as distintas perspectivas em contextos diferenciados, antes e pós-implantação do novel regime de Outubro de 1910.

Palavras-chave: República; Relações Internacionais; Imprensa Periódica; Republicanismo; Portugal 

A Lucta de Brito Camacho e a questão “paivante” em Espanha 

Vanessa Batista (Hemeroteca Municipal, Câmara Municipal de Lisboa)

Fundado no romper do ano de 1906, o jornal A Lucta viria a destacar-se como uma das mais importantes folhas republicanas nacionais. Propriedade de Manuel de Brito Camacho, tornar-se-ia mais tarde no órgão oficiosa da União Republicana, partido fundado pelo mesmo vulto e de índole mais conservadora dentro do republicanismo. N’ A Lucta encontramos uma declarada condenação e incompreensão face à permanência dos monárquicos portugueses (fugidos às forças da República) em Espanha. Este grupo teve como figura de proa Henrique Paiva Couceiro, que encarnou a resistência e combate à implantação do novo regime português de forma obstinada. A referida presença das forças monárquicas em Espanha era vista pel’ A Lucta com uma gravidade gritante, sublinhando-se a alegada proteção e auxílio de que beneficiavam estes “paivantes” em território vizinho. É assim proposta uma leitura do acompanhamento d’ A Lucta a este episódio que de forma evidente ameaçou a nova República, exigindo dos seus representantes diplomáticos um esforço assinalável para encontrar um equilíbrio ibérico necessário e da imprensa republicana a condenação necessária e denuncia pública da questão.

Palavras-chave: República; Espanha; Monarquia; Imprensa republicana
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